MPF ouve capitã cloroquina sobre falta de oxigênio em Manaus

O Ministério Público Federal (MPF) ouviu a secretária Mayra Pinheiro, do Ministério da Saúde, sobre a falta de oxigênio e difusão do tratamento precoce contra a Covid em Manaus. Ela é conhecida nas redes como “Capitã Cloroquina”, por defender o uso do chamado “Kit Covid”, uma série de remédios que não tem eficácia contra o coronavírus e ainda oferecem riscos.

Mayra Pinheiro prestou depoimento ao MPF no dia 12 de março, e a Rede Amazônica teve acesso nesta quarta-feira (19). Outras seis pessoas, incluindo o ex-ministro Eduardo Pazuello, também são investigadas em um inquérito que apura a crise na saúde durante a segunda onda da Covid.

Com o aumento recorde de internações por Covid-19 em janeiro, Manaus passou a enfrentar um colapso no sistema de saúde por conta da falta de oxigênio nos hospitais. Com o grande número de novos casos, internações, e a falta do insumo, pacientes precisaram ser transferidos para outros estados.

Durante o depoimento, ela lembrou a orientação do Ministério da Saúde de dar autonomia aos médicos para prescrever esses medicamentos e citou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) deve liberar oficialmente o uso da ivermectina (vermífugo) como tratamento contra a doença.

Na última publicação a respeito, do dia 31 de março, a OMS aconselha que a ivermectina só pode ser usada para tratamento da Covid dentro de testes clínicos e diz que a atual evidência do uso da ivermectina para o tratamento de pacientes com Covid é inconclusiva.

A secretária disse no depoimento que o então ministro Pazuello convocou uma reunião no dia 28 de dezembro para falar sobre a crise no Amazonas, mas a comitiva só chegou em Manaus no dia 3 de janeiro.

Ao ser questionada sobre o motivo da demora entre a reunião em Brasília e a chegada a Manaus, a secretária do Ministério da Saúde disse que era preciso montar uma logística para a viagem, que não foi informada pela prefeitura ou pelo Governo do estado sobre uma eventual colapso do sistema.

No depoimento, Mayra Pinheiro diz que o secretário de saúde do Amazonas, Marcellus Câmpelo, informou a respeito da falta de oxigênio no dia 8 de janeiro, quando a comitiva já havia voltado para Brasília.

“O secretário Marcellus me comunicou que ele havia recebido no dia 8, de madrugada, um informe por e-mail da White Martins dizendo que havia um problema da rede, que a quantidade de litros de oxigênio que tava sendo usada tava sendo muito maior do que aquela que a rede poderia oferecer. E aí ele entrou em contato com o ministro Pazuello”, disse.

Questionada novamente sobre a informação passada pelo secretário estadual, Mayra disse que só no dia 17 – três dias depois do colapso do oxigênio – teve conhecimento oficial do e-mail da empresa White Martins, responsável pelo fornecimento de oxigênio para o Governo do Amazonas.

“Eu tomei conhecimento desse documento do secretário Marcellus somente no dia 17, quando eu me reportei a ele, porque como eu tinha sido secretária deslocada para Manaus houve em algum momento um questionamento: Você esteve em manaus e você não comunicou a ninguém da falha de oxigênio”, comentou em depoimento.

Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) foi informada pela empresa White Martins, no dia o dia 07 de janeiro, sobre a necessidade de apoio logístico para o transporte de oxigênio de outras plantas da empresa para Manaus.

“No mesmo dia, o secretário de Saúde, Marcellus Campêlo, ligou para o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para solicitar apoio logístico, atendendo ao pedido da White Martins. O ministro solicitou ao secretário que fosse enviado um ofício ao Comando Militar da Amazônia (CMA) com o pedido, o que foi feito ainda no dia 7 de janeiro”, informou a secretaria.

A SES-AM disse ainda que acompanhava, juntamente com a empresa responsável pelo abastecimento, o consumo de oxigênio, que apresentou aumento exponencial e inesperado do produto em virtude do surgimento da nova variante P.1, bem mais transmissível e que ocasionou aumento no número de internações.

Fonte: G1