Após suspender voos, França reforça restrições para brasileiros

As novas regras também limitam ainda mais quais pessoas que estiveram nos últimos 14 dias no Brasil, na Argentina, no Chile e na África do Sul

O governo da França anunciou neste sábado (24) um aumento das restrições para viajantes que passaram por Brasil, Argentina, Chile e África do Sul, que agora precisarão cumprir uma quarentena de dez dias ao desembarcarem no território francês. O anúncio vem quatro dias depois Paris anunciar a suspensão de todos os voos que tenham como origem ou destino o Brasil.

As medidas, anunciou o Palácio do Eliseu, deve-sem à preocupação crescente com as variantes da Covid-19, mais contagiosas e possivelmente mais letais. Há um temor especial com a P.1, responsável pelo agravamento da crise sanitária em território brasileiro nos últimos meses.

A mesma razão levou o governo espanhol a prorrogar, neste sábado, a quarentena obrigatória para viajantes que passaram pelo Brasil e por mais 11 países até ao menos 3 de maio. A Guatemala, por sua vez, barrou por completo a entrada de quem esteve no Brasil, no Reino Unido e na África do Sul.

Passageiros oriundos do território brasileiro já precisavam se comprometer a cumprir uma quarentena de sete dias ao chegarem na França, segundo o site da missão diplomática do país no Brasil, bem como realizar um teste PCR ao final do período. A falta de controle da adesão às medidas, contudo, era alvo de preocupação entre os franceses.

As novas regras estabelecem a obrigatoriedade de uma quarentena de de dez dias e criam um sistema para verificar, antes do embarque e na chegada, se há um lugar adequado para a realização do isolamento. O cumprimento das diretrizes será acompanhado por policiais e gendarmes. As multas para quem desrespeitá-las também serão endurecidas para valores ainda não especificados.

As regras anunciada pelo escritório do premier Jean Castex serão implementadas gradualmente até entrarem em vigor por completo no dia 24, afetando inclusive aqueles que vêm da Guiana Francesa.

As novas regras também limitam ainda mais quais pessoas que estiveram nos últimos 14 dias no Brasil, na Argentina, no Chile e na África do Sul poderão ingressar no território francês. Agora, a entrada será majoritariamente restrita a franceses e parentes imediatos, além de outros cidadãos da União Europeia que residam na França.

Para embarcarem, precisarão mostrar um teste PCR negativo realizado até 36 horas antes do voo (antes a validade era de 72 horas) ou um teste realizado há até 72 horas acompanhado de um teste de antígenos negativo realizado com até 24 horas de antecedência. Um segundo teste de antígenos será realizado no desembarque, disse ainda o governo francês.

Apesar de terem suspendido os voos que têm como origem e destino o Brasil, Paris anunciou que manterá as linhas que fazem trechos com a Argentina, o Chile e a África do Sul. A decisão, afirmou o escritório de Castex, ocorre porque os países “não têm os mesmos níveis de Covid-19 observados no Brasil”.

As medidas vêm em meio a alertas sobre o “surto infernal” que assola o território nacional, como caracterizou Bruce Aylward, conselheiro da Organização Mundial de Saúde (OMS), em uma entrevista coletiva na segunda-feira. Dos países que fazem fronteira com o Brasil, apenas o Paraguai mantém as fronteiras abertas — apesar da pressão interna para que elas sejam fechadas.

Há um mês, o ministro da Saúde da França, Olivier Veran, disse que cerca de 6% dos casos de Covid-19 no país eram causados pelas variantes brasileira e sul-africana. A que predomina no território francês é a cepa britânica B.1.1.7, que sobrecarrega os hospitais de Paris e levou o governo a acirrar as restrições de circulação dentro no país.

No último dia de março, o presidente Emmanuel Macron anunciou a ampliação de uma quarentena até então em vigor apenas em partes da França para todo o país. Os franceses fecharam o comércio não essencial, escolas e creches. Proibiram também o deslocamento a uma distância de mais de 10 quilômetros e mantiveram um toque de recolher, em vigor desde 2020, das 19h às 6h.

Os casos no país já dão sinais de queda, diminuindo 12% nas últimas duas semanas. As mortes, por sua vez, mantêm-se estáveis, com tendência de queda. Segundo dados do Ministério da Saúde francês, o país hoje soma 5,2 milhões de casos de Covid-19, com 100,4 mil mortes.