Capitã Cloroquina teme ‘espetáculo circense’ na CPI da Pandemia

A preocupação demonstrada Mayra Pinheiro por conta de seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia está relacionada com o “espetáculo circense” em que se transformaram as oitivas do inquérito, disse nesta sexta-feira (21), o senador Marcos do Val (Podemos-ES), suplente na CPI.

Segundo do Val, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, conhecida pelo apelido de “Capitã Cloroquina”, percebe que a comissão está sendo usada de “palanque” e que há a construção de uma narrativa que atribui ao governo federal a maior responsabilidade pelas mortes em decorrência da Covid-19 no Brasil.

Nesta sexta-feira, Mayra Pinheiro apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido para que o ministro Ricardo Lewandowski reconsidere sua decisão de rejeitar um habeas corpus que garantiria à secretária do Ministério da Saúde o direito de permanecer em silêncio durante seu depoimento, marcado para a próxima terça-feira (25).

“Eu acho que a preocupação dela é porque essas oitivas estão virando um espetáculo circense. Até, na semana passada, tinha um pedido para o presidente [da CPI] Omar Aziz trocar o relator, que está fazendo um trabalho muito passional”, opinou Marcos do Val, em referência ao senador Renan Calheiros (MDB-AL).

O senador pelo Espírito Santo disse ainda que a CPI tornou-se um local de muita exposição das testemunhas, que são inquiridas pelos senadores “ao vivo, para o mundo inteiro”. “Tem uma preocupação da imagem, da carreira e da honra da pessoa. A família está assistindo, os amigos”, argumentou.

Mayra Pinheiro foi apontada pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello como a responsável pelo aplicativo TrateCOV, que auxiliava médicos a receitarem medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 aos doentes, como a ivermectina e a hidroxicloroquina. Defensora do chamado “tratamento precoce”, Mayra ganhou o epíteto de “Capitã Cloroquina” nas redes sociais.

O apelido foi citado pelo relator da CPI, Renan Calheiros, e apareceu no novo pedido feito pelo advogado de Mayra ao STF, sob o argumento de que o senador reproduziu uma ofensa e que, por isso, há a necessidade do habeas corpus para que ela não seja agredida na CPI.

Inicialmente, seu depoimento estava marcado para quinta-feira (20), mas teve de ser adiado quando a oitiva de Pazuello foi dividida em duas sessões.

Na terça-feira (18), Lewandowski negou o pedido de habeas corpus apresentado pela defesa de Mayra porque ela não é investigada, sendo “o direito de permanecer calada […] é reservada àqueles que são interrogados na condição de investigados, acusados ou réus por alguma autoridade estatal”, escreveu o ministro em seu despacho.

Lewandowski ainda ressaltou que Mayra tem a obrigação de comparecer à CPI e prestar depoimento como testemunha por ser servidora pública.