
O presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, confirmou nesta quarta-feira (15) que a estatal fará um empréstimo de R$ 20 bilhões, com garantia da União, como parte de um amplo programa de reestruturação financeira. O objetivo, segundo ele, é “recuperar a liquidez da empresa” e reverter o quadro de prejuízos acumulados nos últimos anos.
O anúncio foi feito no edifício-sede dos Correios, em Brasília, apenas 21 dias após Rondon assumir o comando da companhia. O plano de recuperação inclui renegociação com fornecedores, abertura de novas frentes de receita e a criação de um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para reduzir custos operacionais.
“A gente precisa recuperar a liquidez da empresa para que a gente possa, por exemplo, ter capacidade de pagar o Plano de Demissão Voluntária (PDV). Estamos fazendo uma operação com bancos para realizar uma tomada de recursos”, declarou Rondon.
Em setembro, os Correios divulgaram o resultado do primeiro semestre de 2025, com um prejuízo de R$ 4,3 bilhões, valor mais de três vezes superior ao registrado no mesmo período de 2024, quando a estatal teve déficit de R$ 1,3 bilhão.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) articula, junto ao Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e bancos privados, a concessão do empréstimo para socorrer a estatal. Do montante total, R$ 10 bilhões devem ser liberados em 2025 e os outros R$ 10 bilhões em 2026.
Segundo Rondon, o contrato de crédito ainda está em fase de negociação. O valor será usado para recompor o caixa da empresa e dar fôlego à implementação do plano de reestruturação.
Durante 2024, os Correios consumiram R$ 2,9 bilhões do dinheiro em caixa e em aplicações financeiras, o que representou 92% do total aplicado em 2023. Ainda na gestão anterior, comandada por Fabiano Souza, a estatal chegou a contratar um empréstimo emergencial de R$ 1,8 bilhão para cobrir despesas operacionais.
Essa escassez de recursos levou a atrasos em repasses e pagamentos a fornecedores e parceiros. “O que aconteceu de fato aqui é que a nossa empresa não se adaptou de forma ágil a uma nova realidade, e essa falta de adaptação fez com que a gente sofresse no resultado, com falta de caixa”, avaliou o presidente.
A redução de custos operacionais será o principal foco do plano de reestruturação. Rondon explicou que o PDV será implementado de forma estratégica, concentrando-se em áreas com excesso de pessoal, sem comprometer as atividades essenciais da companhia.
“O primeiro ponto fundamental que estamos entabulando neste momento é um programa de demissão voluntário para reduzir a estrutura de gastos da empresa e começar o equacionamento entre receita e despesa”, afirmou.
Além do PDV, a nova gestão pretende renegociar contratos com grandes fornecedores para tornar a estrutura de custos “o mais enxuta possível” e acelerar o desinvestimento em imóveis ociosos, medida que deve ajudar tanto na geração de caixa quanto na redução de despesas de manutenção.
Paralelamente às medidas de contenção, os Correios buscam diversificar suas fontes de receita. Rondon afirmou que pretende retomar o diálogo com os maiores clientes da empresa e estudar novas frentes de negócio, inspiradas em modelos de sucesso de serviços postais internacionais.
“Precisamos fazer a recuperação da saúde financeira do caixa para implementar, por exemplo, o PDV”, reforçou o presidente.
Com a captação dos R$ 20 bilhões, o novo comando dos Correios aposta em um recomeço financeiro para a estatal, que há anos enfrenta queda de receitas, concorrência crescente e pressão por modernização. O desafio agora será reerguer a empresa sem comprometer a qualidade dos serviços essenciais prestados à população.