Golpista é preso por esquema milionário de pirâmide com criptomoedas em resort de luxo na Bahia

“Ainda bem que fui preso. Achei que seria morto”. Foi o que disse o mineiro Marcel Mafra Bicalho, 35 anos, suspeito de comandar um esquema milionário de pirâmide financeira foi preso no início do mês pela Polícia Civil (PC) em um resort de luxo no distrito de Arraial d’Ajuda, em Porto Seguro, na Bahia. Com informações do Correio24horas.

Marcel usava uma plataforma de investimentos e uma equipe que oferecia investimentos em bitcoins (moeda virtual), com retornos altos para atrair vítimas. Outro homem, cujo nome é apontado como laranja nas operações, também foi detido.

O esquema, investigado pela Polícia Civil por quatro meses, começou em Montes Claros, no Norte de Minas. O suspeito fundou uma empresa e prometia investimentos cujos retornos variavam entre 30% e 100% ao mês, com aporte mínimo de R$ 1,5 mil.

O golpe foi concretizado há cerca de um ano, quando a empresa desapareceu do mercado e o homem se escondia de credores de diversas regiões do país. Segundo a PC, algumas vítimas chegaram a ter prejuízos de mais de R$ 1 milhão.

Por seu esconderijo em Arraial d’Ajuda, ele pagava R$ 30 mil mensais de aluguel e contava com seguranças armados. Este não foi o único lugar onde o suspeito se escondeu. De acordo com a PC, ele chegou até mesmo a se isolar em uma ilha do litoral baiano em uma das fugas.

Com as supostas fraudes ele conseguiu construir um patrimônio avaliado em R$ 33 milhões, com itens como casas, carros e dinheiro desviado do esquema. No total, a fraude lesou mais de 6 mil pessoas e causou prejuízos de mais de R$ 1 bilhão. 

Filho, titular da delegacia de Investigações Especiais de Montes Claros, disse que o mineiro mentiu inclusive na própria família.

“De pessoa humilde, ele passou a milionário em pouco tempo. Enganou também a família, disse que ganhou na Mega-Sena e enviou todo mundo para o exterior. Ele tem mulher e filhos, mas estava sozinho quando foi preso”.

Golpe 
No extremo sul da Bahia, Marcel Bicalho mantinha uma vida discreta e quase não saía da pousada, onde ele mantinha grande aparato tecnológico que o permitia monitorar as transações financeiras. O imóvel, cujo dono é um brasileiro que mora no exterior, era protegido por seguranças armados de uma empresa particular.

Segundo a polícia, há pelo menos três anos Marcel Bicalho atua no mercado financeiro por meio da empresa Mattos Investing, criada em Montes Claros. Antes de vir para a Bahia, ele morava no bairro nobre de Ituruna, não tinha emprego fixo e mantinha um estilo de vida classificado como “caipira”, sem chamar a atenção das autoridades policiais, mesmo já tendo sido preso por brigas de trânsito.

Segundo a polícia, com a Mattos Investing, o mineiro atraía pessoas para que investissem em criptomoedas (bitcoins) e outras atividades financeiras. Na internet, ele dava curso de como seriam os investimentos e prometia lucro inicial de 60% em dois meses, aumentando, depois de 6 meses, para uma margem de 120 a 160% do valor investido. O aporte mínimo era de R$ 1,5 mil.

A estratégia era dar um retorno financeiro nos primeiros dois meses, para manter as pessoas interessadas. Em seguida, quando havia novo investimento, ele sumia com o dinheiro. As aplicações individuais giravam em torno de R$ 80 mil a R$ 100 mil, mas depois dos lucros iniciais eles chegavam a valores entre R$ 400 mil e R$ 500 mil. De acordo com a polícia, apenas um investidor do Ceará, por exemplo, perdeu R$ 7 milhões.

A polícia não soube especificar quantas pessoas fazem parte da suposta quadrilha criminosa, mas garantiu que ela tem atuação em todos os estados do Brasil. Um dos integrantes do grupo era o baiano Leonardo Oliveira da Silva, 32, preso preventivamente no mesmo dia que Marcel Bicalho.

A polícia informou que Leonardo lavava dinheiro e angariava novas vítimas em todo o país. Apenas no Rio de Janeiro, havia um grupo de cerca de 600 pessoas, algumas das quais atuavam também com a lavagem de dinheiro, produção de documento falso, tanto público quanto particular, remessa ilegal de dinheiro para o exterior e na captação de novos investidores.

Alberto Tenório Cavalcante Filho informou que, desde que passou a dar golpe nos investidores, Marcel sempre se mudava de endereço e trocava de aparelho celular. Ele preferiu não informar como a polícia chegou até o suspeito.

“Ele chegou a morar em Belo Horizonte, Salvador, em outra casa em Arraial d’Ajuda. Voltou pra Montes Claros e, depois, foi para Arraial de novo. Há investigações aqui em Montes Claros e em Belo Horizonte contra ele e outros envolvidos”, concluiu o delegado.