Jair Bolsonaro faz ameaça novamente e ataca à CPI da Covid

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar a CPI da Covid nesta sexta-feira, 7, e a ameaçar a edição de um decreto que impediria prefeitos e governadores de promover medidas mais duras de isolamento social em meio à pandemia do coronavírus.

A declaração do presidente sobre o decreto é mais uma provocação ao STF (Supremo Tribunal Federal), que já deu aval para que estados e municípios tomem medidas nesse sentido no combate à Covid.

Pela manhã, nas redes sociais, respondeu a senadores da CPI que criticam medicamentos sem eficácia comprovada que “não encham o saco”. Segundo o presidente, o médico e o paciente são livres para escolher como querem se tratar.

O governo Bolsonaro está acuado pela CPI que investiga as ações e omissões do governo federal na pandemia e é controlada por parlamentares críticos ao presidente.

Mais tarde, em Rondônia, em discurso durante inauguração da Ponte do Abunã (a 220 km de Porto Velho), Bolsonaro afirmou que já tem pronto o decreto para proibir prefeitos e governadores de adotarem medidas restritivas de combate ao novo coronavírus, como toque de recolher e fechamento do comércio.

“Tenho falado que, se baixar um decreto, que já está pronto, todos cumprirão. Por que todos cumprirão? Porque esse decreto nada mais é do que uma cópia dos incisos do artigo 5º da Constituição, que todos nós juramos defendê-la”, disse o presidente, afirmando que o direito de ir e vir é sagrado.

O presidente foi ovacionado por alguns milhares simpatizantes que se aglomeraram para acompanhar a inauguração. A ponte sobre o rio Madeira une Acre e Rondônia, estados que deram o maior e o terceiro maior percentual de votos a Bolsonaro no segundo turno de 2018, respectivamente. Na visita, Bolsonaro conduziu uma motocicleta, sem usar capacete, em velocidade elevada para atravessar a ponte –com o empresário Luciano Hang na garupa.

Bolsonaro disse que não se justifica, daqui para frente, adotar medidas restritivas em qualquer ponto do país. E defendeu que a liberdade deve vir em primeiro lugar: “Todos nós preferimos morrer lutando do que perecer em casa”.

Também voltou a repetir que não usará as Forças Armadas para fazer cumprir medidas restritivas e que não vai admitir quem queira “jogar fora das quatro linhas da Constituição”.

“Pode ter certeza: se cada um de nós militares aqui presentes juramos um dia dar a vida pela nossa pátria, vocês que são grande Exército brasileiro farão tudo, até a própria vida, para garantir a sua liberdade.”

Dirigindo-se ao público, Bolsonaro repetiu a expressão “meu Exército” ao afirmar ser contrário a um “lockdown”: “O meu Exército jamais irá as ruas para mantê-los dentro de casa”.

Acompanhado de ministros e de parlamentares bolsonaristas, além dos governadores de Rondônia e do Acre, o presidente falou da eleição de 2022. “Pode melhorar, tudo pode melhorar. […] Se Deus quiser termos forças para continuar dirigindo esta nação com o apoio de todos vocês”.

Apesar de ser um dos governadores mais alinhados com Bolsonaro, o coronel da PM Marcos Rocha (PSL-RO) foi duramente vaiado durante o discurso, inclusive durante um longa citação da Bíblia.

As duras vaias lembram o que ocorreu durante a visita de Bolsonaro ao Amazonas, quando seus seguidores vaiaram e deram as costas para o governador Wilson Lima (PSC), que também é próximo do Planalto.

Menos próximo de Bolsonaro do que o colega de Rondônia, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), foi aplaudido durante o discurso.

Também integravam a comitiva o ex-piloto de F-1 Nelson Piquet e o empresário Luciano Hang, da Havan.

Eles interagiram com a multidão ao lado de Bolsonaro, mas nenhum deles usava máscara.

Outro que interagiu com o público sem máscara foi o ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos.

Em 27 de abril, sem saber que sua fala estava sendo transmitida, ele disse que tomou escondido a vacina contra a Covid-19 e que Bolsonaro está com a vida em risco.

Na quarta-feira (5), sob pressão de depoimentos na CPI da Covid, Bolsonaro já havia disparado ameaças ao STF e realizou novos ataques à China, ao sugerir que o coronavírus poderia ter sido criado em laboratório pelos asiáticos.