“Me ajuda, pelo amor de Deus, tenho três filhos”, disse vigilante antes de morrer

Paulo Coelho, de 30 anos, morreu após ser ferido durante um confronto com uma quadrilha de assaltantes na BR-116, em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, na noite do último dia 28 de agosto. Antes de perder a consciência, o vigilante ainda conseguiu mandar uma mensagem de áudio pedindo socorro para seus colegas.

“Levei dois tiros, um na barriga e um na cabeça. Alguém me ajuda, cara. Me ajuda, eu tenho dois, três filhos. Me ajuda, me ajuda, pelo amor de Deus”, disse segundos antes de desmaiar.

Na ocasião, os criminosos haviam preparado uma emboscada para dois ônibus de turismo que faziam a linha Pelotas, no Rio Grande do Sul, para São Paulo, capital. Paulo fazia parte da escolta armada que deveria proteger os veículos.

Vigilante ferido durante confronto também falou com a esposa
Segundo Jean Carlos Griten, colega de trabalho de Paulo, após ser atingido e quando percebeu a gravidade da situação, o vigilante pediu para falar com a esposa e se despedir. “Eu consegui achar o telefone dele, ele ainda tava lúcido, aí eu consegui fazer a ligação e ele conseguiu falar com a esposa dele. Ele falou que precisava se despedir dela. Aí, eu falei ‘não, não é despedida, cara. Daqui a pouco vocês estão conversando cara a cara. Calma, fica comigo’. E bem no fim acabou sendo uma despedida mesmo”, conta.

“Ele conseguiu falar com a esposa dele. Ele falou que precisava se despedir dela”, Jean Carlos Griten.

A ligação foi feita enquanto os dois estavam encurralados pela quadrilha e Jean havia retirado o amigo de dentro do veículo no colo para evitar que fossem executados. Conforme conta, os vigilantes só perceberam a emboscada quando os disparos começaram. “Eles já passaram dando rajada [disparos de metralhadora], acertaram meu parceiro que tava dirigindo. A gente tava na fila, na faixa da direita, aí, ele perdeu o controle, a viatura bateu na mureta, o carro parou na mureta, eu senti que pegou na perna, mas só esquentou na hora com a adrenalina. Eu consegui tirar ele do carro, aí, puxei ela pra trás da viatura, consegui passar com ele pro outro lado da mureta, usando a mureta como barricada. Só que no que eu passei pro outro lado, tinha um carro parado do outro lado da BR, tinha um cidadão se aproximando e atirando, então, eu tive que voltar com ele pro outro lado e os cara atirando”, lembra o vigilante que também foi ferido com um disparo de arma de fogo na perna.

O tiroteio durou cerca de 5 minutos, por fim, os dois ônibus foram parados por outros bandidos do grupo cerca de 300 metro a frente. Para efetuar a ação, a quadrilha fortemente armada usou quatro veículos, entre eles um blindado com chapas de metal. Enquanto eles entraram nos ônibus, renderam motorista e passageiros, e levaram todo os dinheiro e pertences das vítimas, Jean tentava manter o colega vivo no meio da rodovia.

Eu fiz o que eu pude, uma parte de treinamento, uma parte de instinto, uma parte medo”, lembra o vigilante.

Vigilante morre a caminho do hospital e deixa três filhos
Os dois foram socorridos pela equipe da concessionária que administra o trecho da rodovia, mas o vigilante morreu a caminho do hospital.

Paulo, que trabalhava há um ano como segurança, também era agente penitenciários em Joinville, em Santa Catarina. Ele era pai de um menino e sua esposa está grávida de sete meses de gêmeos.

“Dá vontade de só chorar. O Paulo era um cara alegre, sorridente, brincava com todo mundo, fazia todo mundo rir. Não merecia isso. Foi em combate, foi em serviço, foi com honra, mas não merecia”, declara Jean.

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Colaboradora: Caroline Berticelli/Ric Mais