Em vigor desde 2015, a lei municipal Nº 2036 proíbe que profissionais de saúde de Manaus vistam aventais e jalecos fora das clínicas e hospitais. A regra ainda reforça uma exigência do manual de biossegurança laboratorial da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Porém, atualmente em 2020, o que encontramos nas ruas da capital manauara aponta uma cultura totalmente diferente das regras: não é preciso esperar mais de 30 minutos nas calçadas de algum hospital da cidade para encontrar profissionais vestidos no tradicional uniforme branco.
Apenas durante algumas horas da manhã, é possível flagrar mais de uma dezena de profissionais que ainda desobedecem a lei. É possível ver ainda médicos e enfermeiros consumindo livremente alimentos e circulando sem preocupação, sempre de jaleco.
Questionado sobre o hábito, um médico – que preferiu não se identificar – argumentou com o ritmo frenético da profissão. “É difícil encontrar tempo até para ir ao banheiro, imagina se a gente for tirar o jaleco e vestir de novo a cada vez que for necessário atravessar a rua?”, disse ele, que saiu do hospital para comprar uma salada de frutas. De acordo com o profissional, “um celular ou caneta podem carregar tantas bactérias quanto a roupa”.
Assunto é polêmico entre especialistas
De acordo com o infectologista Luciano Arraes, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz de São Paulo, o risco está nas bactérias que podem ser carregadas da rua para as unidades médicas.
“A contaminação existe para os profissionais e pacientes. As bactérias do jaleco podem não trazer uma doença imediatamente, mas caso o profissional – e a roupa que foi exposta – participe de procedimentos cirúrgicos ou punções venosas , onde há a quebra de barreira da pele do paciente, essas bactérias podem cair na corrente sanguínea e provocar infecções graves, difíceis de tratar por serem hospitalares e geralmente resistentes a antibióticos”, explica.
Crítico ao uso do jaleco branco de maneira geral, Arraes defende que o traje deveria ser usado apenas em consultórios, onde o contato com o paciente é menor e o risco de infecções também.
“O que existe hoje é o uso incorreto de um equipamento que antigamente era visto como proteção, mas que sempre foi usado como forma de diferenciar o status de médico ou alguém importante”, diz. Para o profissional, “o mais correto seriam capotes descartáveis com uso individual para cada paciente examinado, porém isso gera um custo elevadíssimo que nem os hospitais privados conseguem manter”.