Tatuador fortalece autoestima de idosa ao fazer tatuagem realista em dedo amputado

Dulcineia, de 67 anos, resolveu entrar em um estúdio de tatuagem enquanto estava a caminho do dentista. Sem saber muito bem o que pedir, ela mostrou um dedo com a ponta amputada, que perdeu em um acidente na infância. A tecladista e pianista falou sobre a vergonha que sentia ao mostrar as mãos, inclusive quando toca os instrumentos. Alguns dias depois, ela voltou ao estúdio para fazer uma tatuagem e recuperar a autoestima.

Augusto Molinari foi o responsável pelo trabalho que restaurou a vaidade de Dulcineia. Ao amputar parte do dedo médio de uma das mãos, aos 7 anos, a pianista perdeu a unha. Ela falou a Augusto sobre a insegurança que sentiu ao longo da vida.

“Ela entrou no estúdio e conversou com o gerente: ‘ah, moço. Aqui trabalha com coisa de tatuagem? Queria ver se pode fazer alguma coisa, porque eu perdi a ponta do meu dedo quando era pequenininha e eu tenho vergonha’”, relembra Augusto, em conversa com o BHAZ.

Acostumado a fazer tatuagens realistas de mamilo para sobreviventes de câncer de mama, Augusto foi o indicado para a missão. Sem cobrar pelo serviço, o tatuador, de Belo Horizonte, conta que foi uma tatuagem delicada e difícil de fazer, por falta de referências. Porém o resultado foi gratificante. “Quando terminou, ela ficou se namorando no espelho, mexendo a mão, achou a coisa mais legal do mundo. Ela disse: ‘agora vou até usar anel nessa mão’. Fofinha demais”, relatou.

Trabalho de referência

Quando foi se preparar para fazer a tatuagem, Augusto descobriu que o trabalho que estava prestes a fazer era uma inovação. Na internet, ele não se deparou com referências que pudesse estudar. “Normalmente tatuagem tem de tudo na internet, vídeos, explicações. Neste caso, não achei nada, só achei fotos de um cara americano que já fez”, comenta.

Por isso, o tatuador fez um esforço para documentar todo o processo da tatuagem. “É bom para virar referência para outros tatuadores. Vai ser legal que a partir daí, tenha a perpetuação disso”, acrescenta.

O grande dia

Dulcineia confiou no trabalho do tatuador e já se sentia pronta para fazer a arte, mas como ela iria trabalhar como pianista no mesmo dia, Augusto sugeriu esperar até um dia que ela estivesse livre, para que a recuperação fosse tranquila. Nessa quarta-feira (23), a artista voltou ao estúdio e fez a tatuagem.

Para que ela não se assustasse se saísse sangue ou tivesse excesso de tinta, normais no meio da realização da tatuagem, Augusto sugeriu que Dulcineia só olhasse para a mão quando tudo estivesse finalizado. “Ela só confiou. Ela disse ‘dói menos do que fazer sobrancelha definitiva’”, conta o tatuador.

Tudo demorou menos de uma hora, entre o preparo e a execução. “Ela saiu toda pimpona. Falei com ela que é de graça, mas ela insistiu e me deu uma caixa de bombom como ‘pagamento’”, conclui.

Tatuagem para se reerguer

Essa não é a primeira vez que Augusto Molinari faz uma tatuagem realista para recuperar a autoestima de algum cliente. Sem cobrar, ele já fez mais de 20 artes de mamilo, para pacientes de câncer que perderam a mama. “É um serviço que eu posso fazer não só por quem tem condição de pagar, mas por quem também não tem”, afirma.