Dia dos Pais: Filho virou pai do próprio pai

Aos 43 anos, Alberto Felipe dos Santos Silva, sabe bem como o amor tem o poder de transformar vidas radicalmente. Há dois anos, deixou o emprego e a faculdade de engenharia para assumir uma missão: cuidar de quem sempre batalhou para dar o melhor a ele e aos irmãos. É Alberto quem presta toda a assistência aos pais de criação Francisco Saraiva da Silva, 82 anos e Irece da Silva, 93. Ele também cuida de um tio de 63 anos, que precisou passar por procedimentos cirúrgicos em decorrência de um quadro de diabetes. As informações são do Jc Online

Alberto chegou à família ainda bebê. Era filho de uma amiga que vivia na casa da mãe de criação. Irece teve três filhos biológicos, antes de ficar viúva. Foi quando um dia, na Praia do Pina, Zona Sul do Recife, conheceu Francisco Saraiva da Silva. Os dois começaram um relacionamento, que já dura mais de meio século. Foi ele quem criou, junto a ela, os filhos de sangue e também os de coração. “Foi sempre um bom marido e pai. Já criei tantos filhos que nem sei quantos foram. Sempre acolhi quem bateu em minha porta”, conta a idosa. O último a chegar foi Alberto, ainda recém-nascido.

“Sempre digo que tenho três mães: a do céu, a biológica e a de criação”, diz Alberto. Francisco nunca teve um filho biológico com Irece, mas adotou de coração todos que entraram na sua vida, inclusive Alberto, que o chama de pai e tem o seu nome no registro. “A vida inteira me dei bem com todos os filhos. Foi uma maravilha me tornar pai deles”, conta o idoso. A afinidade entre Francisco e Alberto era tanta que os dois chegaram a trabalhar juntos com corretagem de imóveis durante um período.

Foi há cerca de dois anos, quando a mãe biológica faleceu, que ele precisou assumir os cuidados com a família de criação. “Jurei a ela, antes de morrer, que cuidaria deles até o fim. Precisei pedir demissão do meu emprego para honrar a minha promessa. Eles sempre fizeram muito por mim e por ela, é uma forma de retribuir.”

Após um ano de cuidados, morando na casa da família, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife, Alberto entendeu que precisaria de especialização para prestar a melhor assistência possível ao pai, à mãe e ao tio. Foi quando procurou o Centro de Estudos da Saúde (Cesa) para realizar um curso de cuidador e outro de curativista.

“Queria fazer o que eu já fazia por amor de forma mais profissional, com a ciência no meio, para garantir que estava desempenhando o meu papel da melhor forma”, conta. Mas Alberto foi além: está cursando o segundo período do curso técnico em enfermagem na mesma instituição, para melhorar os cuidados com a família. “O amor por eles me deu uma nova profissão, já que hoje também trabalho como cuidador de outras pessoas e pretendo seguir na área da enfermagem”, conta.

O cuidador é separado e pai de dois garotos: Lucas, 14 anos, e Miguel, 8. O mais velho vive com ele na casa da família. Ser pai do próprio filho, pai dos seus pais, cuidador e estudante é, por vezes, cansativo. “Mas faço com carinho. Ser filho, para mim, é isso: ter reciprocidade. Aprender a dar de volta tudo o que se recebeu ao longo da vida, no momento em que os pais mais precisam. Tem gente que abandona, que deixa o parente idoso isolado. Mas não foi assim que aprendi com eles. Não foram esses os princípios e os valores que recebi na minha criação”, defende.

Alberto tem no pai uma referência. “Ele é meu norte, o farol que me guiou e ensinou muito na vida.” Já o pai é grato pelo cuidado do filho. “Ele é um filho muito dedicado a todos nós”, elogia. A admiração pelo empenho também está estampada no rosto de Lucas. “Tenho muito orgulho do meu pai. É um exemplo pra mim.”