“Maricoin” é um possível golpe de criptomoeda só para público LGBT+

Economia – As criptomoedas funcionam para descentralizar o sistema financeiro, com novos ativos digitais surgindo diariamente. Muitos são legítimos, enquanto outros são usados para esquemas ilícitos. Possivelmente, esse é o caso da maricoin. A moeda mira o público LGBT+ e começou a ser negociada no bairro queer de Chueca, em Madrid, na Espanha. O ativo não é descentralizado como o Bitcoin ou o Ethereum e funciona no formato de token digital com base em ações: quanto mais você tem, mais ele se valoriza.

A maricoin foi criada em setembro de 2019 por Juan Belmonte, empreendedor e cabeleireiro, com a ideia de unir o poder de compra da comunidade LGBT+ contra a homofobia na Espanha. Em dezembro de 2021, a moeda digital entrou na fase de “projeto-piloto”, e começou a ser aceita como forma de pagamento por 10 estabelecimentos de Chueca.

Belmonte disse à Reuters:

“Já que nós [LGBT+] movemos a economia, por que nossa comunidade não deveria lucrar com isso, em vez de bancos, seguradoras ou grandes empresas que, geralmente, não ajudam pessoas LGBT+?”

O nome da criptomoeda vem da expressão “maricon” em espanhol. Acontece que essa palavra é geralmente usada de forma pejorativa para ofender pessoas gays — não parece o melhor nome para uma moeda digital que homenageia à comunidade LGBT+.

A maricoin tem um website próprio para atrair novos investidores. Nele, os fundadores — não fica claro quem está por trás do projeto — esclarecem que a única forma de investir é entrando na lista de espera do ativo. O link da suposta lista leva o usuário a um formulário do Google, mas não é mais vpossível se inscrever porque a criptomoeda “superou a marca limite de 10 mil pessoas interessadas”.

Maricoin é token perfeito para “pump and dump”

O site da maricoin diz que o ativo será negociado em exchanges de criptomoedas em fevereiro deste ano. Na tentativa de persuadir o usuário de que o ativo não é uma fraude, ele leva para a página da moeda listada na rede de blockchain Algorand.

Isso leva a algumas pistas sobre as intenções da maricoin. Na verdade, ela não é uma criptomoeda minerada como o bitcoin ou o ether, mas sim um token 100% centralizado que funciona como uma ação do mercado financeiro. Quanto mais ativos você tem, maior o valor da sua fatia do negócio.

O website listado na página da maricoin no Algorand, maricoin.coin, não existe, e a criptomoeda LGBT+ nem sequer aparece na lista de ativos negociados no blockchain.

Não há informações suficientes para afirmar que a moeda digital é um golpe, mas a mentalidade de “quanto mais eu tenho, mais ela vale” indica um esquema de “pump and dump” comum no mundo dos criptoativos.

Esquemas desse tipo geram muita expectativa sobre a negociação de um ativo, e beneficiam principalmente pessoas à frente do token e os investidores de primeira viagem, que compraram mais moedas digitais. No caso da maricon, os beneficiários diretos são os investidores da Algorand. Eles vendem os ativos e recebem tokens ALGO (Algorand) em troca.

Os primeiros 100 usuários que encomendaram a maricoin também devem se beneficiar do esquema, pois compraram as moedas digitais em um desconto “dois pelo preço de um”. Os outros 10 mil clientes na lista de espera vão obter o ativo por uma oferta de “três pelo preço de dois”.

Mas isso tudo beneficia o investidor de primeira viagem, que recupera o dinheiro a curto prazo, oferecendo a criptomoeda com os descontos. Os usuários que fizeram as encomendas provavelmente vão lucrar com um desconto menor sobre os usuários da lista de espera. E assim funciona a pirâmide, de cima para baixo.

Fonte: Terra Brasil Notícias