Com a projeção inflacionária para 2021 em ritmo acelerado, chegando a 7,27% na última semana, os valores pagos por quem não consegue quitar as dívidas no cartão de crédito têm se tornado cada vez mais perigosos devido à alta taxa de juros. No entanto, o endividamento reflete uma realidade na qual o índice de desemprego ultrapassou os 14% no segundo semestre de 2021, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, o aumento de preço em itens básicos do cotidiano brasileiro como gasolina, carne e gás de cozinha tem feito o poder de compra dos brasileiros reduzir drasticamente. O cartão de crédito, para muitos, acaba se tornando uma alternativa para adiar os custos com as despesas mensais, mesmo sem garantia de pagamento. Para Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de Gestão Financeira da FGV, apesar da conjuntura, é fundamental se esforçar para utilizar o cartão de forma planejada e saber como essa modalidade de pagamento funciona.
“O cartão de crédito já te dá um crédito pré-aprovado que te permite fazer compras de acordo com a sua possibilidade de pagamento. Eles verificam essa possibilidade de pagamento a partir dos seus ganhos”, explica Ricardo. “A gente percebe um aumento na inadimplência com relação aos cartões, porque muda a realidade das pessoas com relação ao momento em que o banco concedeu aquele [limite de] crédito”, completou.
Outro ponto a ser levantado é o parcelamento de compras no cartão. Apesar de parecer um alívio adiar o pagamento das compras, fazer isso com frequência pode dificultar a vida do consumidor, especialmente na hora de somar as parcelas fixas com o gasto mensal variável. O que acontece, muitas vezes, é que a junção de muitos parcelamentos se somam aos novos gastos do mês, surpreendendo aqueles que, porventura, esqueceram de contabilizar as parcelas preexistentes na hora de equilibrar as compras no cartão.
Entretanto, em alguns casos, o parcelamento pode ser um aliado na hora de economizar. Para isso, especialmente no caso de uma compra com valores altos em relação à renda do consumidor, é necessário verificar as condições de pagamento e, principalmente, se há a cobrança de juros no parcelamento. “Você vai comprar à vista, tem o dinheiro, mas chega na loja e o vendedor diz que o produto custa mil reais tanto à vista, como em dez parcelas. Se não tiver descontos à vista, eu vou fazer em dez parcelas e deixar o dinheiro rendendo, será positivo”, disse.
No caso do parcelamento, planejar a compra com antecedência também é fundamental para evitar ser surpreendido com imprevistos. “O ideal é que você tenha o dinheiro bem antes de vencer a parcela (…) É tudo planejamento”, pontua.
Cuidado com os juros
Em relação aos equívocos envolvendo o cartão de crédito, o grande vilão para o bolso é o parcelamento de faturas. Conhecido por ter uma das taxas mais altas do mercado, entrar no “rotativo” do cartão de crédito pode abrir as portas para o endividamento. Essa modalidade funciona, basicamente, como um empréstimo de curto prazo, que consiste na transferência do saldo devedor para a fatura do próximo mês.
“Isso é um problema sério, porque dentro desse parcelamento tem embutida uma quantidade absurda de juros. Aí quando o consumidor parcela, ele esquece que parcelou, que já tem aquele compromisso para o mês seguinte e compra mais”, conta Ana Beatriz Moraes, economista e professora do Ibmec-RJ.
Para Beatriz, no caso de emergências, o ideal é fazer o possível para não precisar parcelar a fatura a fim de evitar a chamada “bola de neve”. Nesse caso, se o consumidor tiver acesso ao crédito consignado, essa pode ser uma alternativa para “evitar ter que parcelar uma fatura de cartão de crédito, porque, dessa forma, ele vai pagar juros menores”, conclui a economista.
Última chance para sair do vermelho