Rodrigo Sant’Anna comemora um ano de casado e abre intimidade com o marido: ‘Queremos adotar’

Do Globo

‘Amor, senta aqui comigo pra gente conversar com o repórter”. O chamado foi feito pelo roteirista Junior Figueiredo, de 33 anos, para o marido, o ator Rodrigo Sant’Anna, de 38.

Rodrigo Sant’Anna comemora um ano de casado e abre intimidade com o marido: ‘Queremos adotar’

Mas logo se acomodou num balanço de frente para uma piscina de azulejos escuros, na parte externa de sua mansão, num condomínio no Itanhangá, na Zona Oeste do Rio.

Depois de uns goles de café, o casal abriu a casa e a intimidade pela primeira vez para uma equipe de reportagem.

Com bom humor e muito amor, eles falaram sobre os defeitos e as qualidades de um e do outro, da rotina e do sonho de adotarem um filho. Os dois acabam de completar um ano de casados.

Eles se uniram em 2 de fevereiro de 2019 — “Dia de Iemanjá”, ressalta Junior —, numa cerimônia civil com festa para 50 pessoas no mesmo ambiente onde aconteceu esta entrevista.

Antes que Rodrigo pudesse começar a falar sobre a terceira temporada da série “Tô de graça”, do Multishow — escrita pelo marido —, que estreia no dia 15 de junho, veio a pergunta que muitos jornalistas passaram anos tentando abordar: “Por que você não costuma falar da sua sexualidade?”.

— Cresci na casa da minha madrinha, no Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Tinha dois quartos, e vivíamos eu, ela, o marido, o filho do casal com a mulher e duas crianças e mais uma prima minha. Éramos oito pessoas.

Era um contexto social complicado. Foi muito difícil me identificar homossexual dentro desse ambiente extremamente machista — relembra Rodrigo, que conta como deu a notícia para a mãe: — Revelei num domingo.

Comecei falando do curso de teatro, em que eu precisaria dar um beijo num homem… E fui em frente. Ela recebeu a informação de uma maneira dramática.

Aquilo ficou resguardado por muito tempo só entre minha madrinha, minha mãe e minha prima. Para os demais da família, aquilo foi meio que acobertado. Mas, no fundo, acho que todo mundo já sabia.

No início do ano passado, ao postar pela primeira vez uma foto do amado, Rodrigo passou a ser questionado sobre sua relação.

— Na época, dei uma entrevista pra vocês, do EXTRA. Mas, naquele momento, eu não me senti confortável para falar. Hoje, estou seguro.

Claro que já tive outras relações… Mas a segurança do Junior me fortaleceu para contar sobre a minha vida íntima — explica Rodrigo: — A primeira sensação que você tem enquanto gay é vergonha da sua orientação sexual.

E isso eu não quero mais. É muito normal alguns gays chegarem a um restaurante e falarem para o garçom: “Estou esperando a minha mulher”.

Por isso que hoje faço questão de pontuar: “Meu marido está vindo”. Ou, quando estou numa loja de roupas, também digo: “A roupa é para os dois, somos casados”. Não dá para ter vergonha do amor.

De mãos dadas com o marido, Junior demonstra confiança ao analisar sua trajetória. Nascido em Eunápolis, no interior da Bahia, e filho de uma pedagoga e um oficial de Justiça, o roteirista que também é formado em Publicidade precisou buscar a sua independência para conseguir viver por completo a sua sexualidade:

— Vivia num ambiente muito religioso. E eu me sentia mal, porque sempre me entendi como gay. Mas guardava aquilo pra mim.

Morei em Eunápolis até os 19 anos e depois me mudei para uma cidade próxima de Salvador para estudar Cinema.

Passei a lidar com pessoas que entendiam a homossexualidade, conheci um homem e fomos morar em São Paulo. Vivemos juntos por nove anos, e eu trabalhava no mercado publicitário.

Entrei numa crise, porque meu sonho era ser roteirista, e o relacionamento acabou. Cheguei a ficar com Rodrigo numa balada em São Paulo, não nos falamos mais e acabei me mudando pro Rio.

Em 2017, já na Cidade Maravilhosa, Junior reencontrou o até então “peguete”.

— Mandei uma mensagem pra ele: “Oi, sumido!”. E a gente acabou se encontrando num restaurante. Ele também tinha acabado de terminar um relacionamento.

Foi rápido, ficamos um tempo e logo depois engatamos o namoro. Acho que, por eu não ser uma pessoa pública, essa questão da sexualidade pra mim era indiferente dentro do meu ciclo social. Para Rodrigo, era mais difícil — avalia Junior.

O anúncio da relação dos dois aconteceu no dia 31 de janeiro de 2019. Era aniversário de Junior. Rodrigo tomou coragem e fez uma postagem no Instagram.

— Fiquei surpreso com tudo aquilo, não sabia como reagir direito e como isso afetaria a vida do Rodrigo. Mas foi libertador — diz Junior, que, além de dividir a intimidade com o ator, é seu parceiro profissional.

— Apesar de sermos um casal, eu preciso respeitar a hierarquia. No trabalho, ele é meu chefe. Tenho que acatar a palavra final dele, agora, terei mais um chefe queridíssimo, estou fazendo o roteiro da nova série do Marcus Majella, “Cóe, professor”, também no Multishow.

Com a família dando todo o apoio ao relacionamento, o casal, que atualmente vive com seis animais, planeja ter um filho. Segundo Rodrigo, a ideia é adotar.

— Hoje, a gente mora com a Elsa e o Roco, um casal de labradores fruto do meu relacionamento anterior; uma gata chamada Melancia, do primeiro casamento do Junior; além da gata Papaia e do casal de cachorros Luca e Luísa, já da nossa união (risos).

Mas a minha mãe fala muito que quer ter netos reais. Mais para frente, queremos concretizar esse sonho — diz Rodrigo.

Junior logo o interrompe:— Ele que quer mais para frente, por mim, já teríamos um filho.

Como todo casal, sempre tem um que dá mais trabalho na relação. A pergunta foi jogada no ar, e a resposta veio de Junior:— É o Rodrigo.

Mas, no geral, a gente tem uma vida tranquila e não é de brigar, claro que às vezes a gente discute, Rodrigo, então, dispara:— Mas mijar fora do vaso os dois fazem.

Junior deixa a toalha molhada em cima da cama, ele é muito mais bagunceiro que eu.

Quem também entrega os dois é a secretária do casal, Nanci Rocha, de 61 anos, que trabalha com Rodrigo há oito:— Na questão da alimentação, Rodrigo é mais focado.

Ele gosta de coisas saudáveis, é regradinho. Mas, no quesito pertubação, os dois ficam no meu pé. Adoram me filmar. A gente faz uma zorra aqui.

Hoje, vivendo uma realidade financeira bem diferente da que experimentou na infância e na adolescência, Rodrigo diz se orgulhar da sua história.

— Quando decidi fazer a CAL (escola de teatro), minha mãe pagou o primeiro mês, mas depois ficou endivida. Tentei bolsa, mas não rolou. No segundo mês, consegui um trabalho no Metrô que custeou quase todo o curso.

No último semestre, minha mãe voltou a se endividar para eu concluir e só quitou as contas quando foi demitida. O dinheiro da rescisão salvou. Coisas da vida real que muita gente passa — diz o ator, que começou a ganhar dinheiro no teatro em 2006 com a peça “Suburbanos”.

O espetáculo lhe rendeu o convite para a Globo. Desde 2015, Rodrigo bate ponto no Multishow. Cria do Morro dos Macacos, ele está animado com a nova temporada do “Tô de graça”, que retrata as comunidades de uma forma bem-humorada:

— Por mais que seja difícil viver em favela, as pessoas buscam a felicidade. Nem tudo é violência. Meu compromisso é mostrar o lado pouco explorado da pobreza.

O sucesso, aliás, não tirou os pés do ator do chão. Mesmo ganhando muito dinheiro, ele sempre se preocupou com o futuro:

— Sou agoniado. Pra mim, a qualquer momento, pode dar uma merda, tudo pode acabar. Já vi amigos passando por isso. Júnior fala que sou exagerado.