‘The Crown’ chega aos anos Thatcher sem novelão e recheada de história

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Na série “The Crown”, a história não é uma mera coadjuvante dos dramas e intrigas internos da família real britânica. Pode parecer que sim, quando se percebe que, recentemente, os temas que mais recebem atenção internacional são seus casamentos, triângulos amorosos, divórcios e até mesmo o suposto envolvimento de um de seus integrantes em uma rede criminosa de abuso de menores.

Na quarta temporada, que estreia no domingo (15) na Netflix, a tentação de transformá-la em uma novela televisiva seria uma clara ameaça a seu selo de qualidade.

Afinal, conta-se aí um drama amoroso acompanhado em uma escala planetária: o trágico romance e casamento com final bastante infeliz entre o príncipe Charles (Josh O’Connor) e a princesa Diana (Emma Corrin).

Mas o criador e autor do roteiro da série, Peter Morgan, é feliz, mais uma vez, ao entrelaçar os acontecimentos de dentro do palácio com os de fora, como a decadência no poder de Winston Churchill (1874-1965), a chegada do homem à Lua, em 1969, e episódios históricos de tremendo impacto no Reino Unido, como o belo capítulo “Aberfan”, que conta o desastre em uma mina no País de Gales, em 1966, que matou 116 crianças.

A quarta temporada tem início quando o IRA (Irish Republican Army, uma milícia republicana que buscava a reunião das duas Irlandas e o fim do domínio britânico) comete um atentado, em 1979, no qual morre o lord Mountbatten, uma influente figura na realeza e uma espécie de mentor do jovem príncipe Charles. Depois, se estende pelos difíceis anos 1980, em que a primeira-ministra Margaret Thatcher (Gillian Anderson) transformou o Reino Unido, não sem causar fricções internas e externas.

O estilo durão da chamada Dama de Ferro está ali, na atuação de Gillian Anderson. Se por um lado a vemos lutar para entender e adaptar-se à ideia de conviver com a monarquia, também vemos como ela foi renovando o pensamento da classe política do Reino Unido.

Thatcher não foi uma rainha da popularidade. A seus pares do tradicional partido Conservador, surgiu como alguém que tinha demasiada pressa e pouca cautela em implementar um política liberal audaz e apressada de privatizações e ajustes. À população, assustou os que iam perdendo empregos e não conseguiam ajustar-se ao novo modelo que ela queria para o país. Mas que acabou funcionando de um modo geral.

Outro ponto polêmico de seu governo é também mostrado na série. O modo como lança ao sul do Atlântico as poderosas Forças Armadas britânicas para aplacar de uma vez a aventura do ditador argentino Leopoldo Galtieri, quando este ordenou a invasão das ilhas Falklands/Malvinas, em 1982.