Assessor do senado Eliseu Neto acusa motorista de aplicativo de homofobia

O assessor parlamentar Eliseu Neto passava as férias no Recife com o namorado quando solicitou um carro por aplicativo na noite do último sábado. Um motorista aceitou. Os dois embarcaram e sentaram lado a lado no banco de trás. O universitário Ygor Higino pediu um beijo. Nesse momento, o veículo parou.

“O motorista mandou a gente descer e falou que não nos levaria mais. Disse: ‘Não quero esse tipo de coisa no meu carro’. Falei que era um absurdo, que era homofobia o que estava acontecendo. Desci para fotografar a placa, quando ele me empurrou e chamou a polícia”

O motorista, então, se aproximou de uma viatura. Imagens de câmera de segurança capturaram o momento em que o policial militar também empurra Eliseu. O motorista e o policial foram embora e deixaram o casal no meio da rua. As férias ficaram pela metade. “Achei que o policial iria me proteger”, disse.

Atualização: o motorista negou ter expulsado o casal após um beijo e negou ser homofóbico.

Planos adiados O casal planejava seguir para Porto de Galinhas, no litoral pernambucano. Os planos foram transformados em atividade burocráticas.

Na segunda, foram à Corregedoria estadual pernambucana pedir que a conduta dos policiais fosse investigada. Também formalizaram um boletim de ocorrência em uma delegacia no Recife para que o motorista seja punido na Justiça — no fim de semana, tentaram registrar o episódio pela internet, mas não há um campo para o registro online desse tipo de ocorrência por intolerância.

Assessor é de partido que protocolou ação contra homofobia

Não é a primeira empreitada jurídica do assessor em torno de questões de homofobia. O assessor é coordenador do núcleo de diversidade do Cidadania, antigo PPS (Partido Popular Socialista). Em 2013, o partido apresentou uma ação ao STF (Supremo Tribunal Federal) para criminalizar a homofobia. Em junho, a Corte definiu que a LGBTfobia equivale ao crime de racismo.

Também não foi a primeira violência enfrentada por Eliseu por ser homossexual. Ainda criança, apanhava do tio. Sem entender muito bem o porquê, só anos depois percebeu que as agressões eram acompanhadas por xingamentos homofóbicos como “bichinha” ou “viadinho”. “Havia algo em mim que nem eu mesmo enxergava e entendia”, lembra

Católico, ele se via em conflito com quem era e com os dogmas que eram cultuados pela família. Só pode compreender a orientação sexual quando saiu de Florianópolis para cursar psicologia no Rio de Janeiro, aos 20 anos. A saída de casa trouxe alívio e permitiu repensar o que havia vivido até então.

“O mais difícil é o caminho da vergonha para o orgulho. A gente cresce entendendo que o viado é um não é homem. Quando você cresce e te xingam de viado, não é referente a com quem você transa, mas de que você não faz parte do grupo dos homens”, diz

Senti na pele a diferença entre a lei que eu garanti no STF há seis meses e a prática dela para quem precisa. [Na ponta], você fala que homofobia é crime e o policial bate em você

De acordo com o assessor, um familiar do motorista telefonou para prestar solidariedade e pretende depor nesta quarta à polícia. Na versão do parente, o motorista supostamente dirigia em bairros com boates LGBTs para abandonar passageiros homossexuais no meio da rua, assim como tinha histórico de violência LGBTfóbica na família.

O outro lado Em depoimento à polícia nesta terça (7), Paulo Augusto Rodrigues disse que encerrou a corrida após uma discussão entre o casal.

Também negou que seja homofóbico e pretende mover uma ação contra calúnia e difamação contra o assessor parlamentar. Eliseu negou que tenha agredido o namorado e que já esperava esse tipo de descredenciamento e espera que as autoridades apurem os fatos.