CPI da Saúde contaminada pelas eleições municipais

Amazonas – O início da campanha municipal deste ano deixou clara a contaminação da CPI da Saúde da Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM) pelo processo eleitoral. E após quatro meses, sem que os escândalos de corrupção dos Governos anteriores fossem investigados, os deputados querem manter o palco da CPI armado por mais dois meses, justamente até a realização das eleições, em novembro.

O partido do presidente da CPI, deputado Delegado Péricles, o PSL, apoia o ex-governador Amazonino Mendes, candidato a prefeito de Manaus. O deputado Wilker Barreto, do Podemos, é titular da Comissão e um dos maiores defensores da prorrogação da CPI. Ele é do partido de Amazonino e candidato a vice-prefeito na chapa do ex-governador, que deixou um rombo bilionário na Secretaria de Estado de Saúde.

Também integrante da CPI, o deputado Serafim Corrêa, do PSB, tem o filho Marcelo disputando a reeleição de vereador. Nesse ano, Marcelo Serafim ‘’esqueceu’’ que foi eleito para apontar os problemas de Manaus, fiscalizar a gestão do prefeito Arthur Neto e se concentrou em ataques ao Governo estadual, justamente na área da Saúde.

Atuando como uma espécie de cão de guarda de Amazonino, Wilker chegou a defender a convocação do ex-secretário de Saúde Francisco Deodato, mas tudo não passou de um jogo de cena. Wilker não queria expor o Governo Amazonino , mas sim desgastar Deodato, com quem disputava a vaga de candidato a vice-prefeito na chapa do ex-governador.

Amazonino saiu do Governo estadual, em 2018, deixando um rombo de R$ 1,1 bilhão na Saúde, em dívidas com empresas médicas, terceirizados, o que tornou a rede de Saúde um verdadeiro caos em 2019. No Governo Amazonino, o pagamento indenizatório de empresas, ou seja, sem contrato com o Estado, se tornou praticamente uma regra. E a CPI da Saúde fez vistas grossas, protegendo Amazonino.

O ex-governador David Almeida, que ocupou o cargo de governador por quatro meses com a saída do ex-governador José Melo em 2017, se colocou à disposição da CPI para prestar informações, mas o presidente da Comissão, deputado Delegado Péricles, não aceitou. À época, David desafiou Amazonino a fazer o mesmo e esclarecer o rombo bilionário que deixou na secretaria estadual de Saúde.

Amazonas – A CPI da Saúde se tornou praticamente uma tábua de salvação eleitoreira para muitos deputados estaduais. Diante dos holofotes, os parlamentares que compõem a Comissão investigaram conforme interesses particulares e de grupos políticos. Além disso, simplesmente ignoraram as práticas suspeitas dos Governos anteriores, a principal exigência para a instalação da CPI na Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM).

Apenas no Governo tampão de Amazonino Mendes, agora candidato a prefeito de Manaus, a rede estadual de Saúde amargou um rombo de R$ 1,1 bilhão. Amazonino deixou o Governo em 2018 devendo meses a empresas médicas, terceirizados, além de tornar o pagamento indenizatório de fornecedores (sem contrato) praticamente uma regra no Estado. A CPI fugiu de investigar o ex-governador.

Após três meses de CPI, os integrantes da Comissão, parte oposição à administração estadual, agora querem que o trabalho se estenda por mais dois meses, justamente em um período que a Assembleia Legislativa começa a ser esvaziada em decorrência das eleições deste ano.

A eleição, em novembro, é municipal, mas há deputado candidato a prefeito, como Ricardo Nicolau, em Manaus; e Augusto Ferraz, no município Iranduba. Wilker Barreto, integrante da CPI da Saúde e um dos mais interessados na prorrogação do funcionamento da Comissão, é candidato a vice-prefeito, na chapa encabeçada por Amazonino.

Nos últimos dias, Josué Neto é um dos mais afoitos à subir no palco da CPI. Após se ver isolado e não conquistar um apoio sequer para se lançar candidato a prefeito da Capital amazonense, Josué tenta surfar na marola da CPI. A agonia dele ganha contornos dramáticos porque no final deste ano, perde a presidência da Casa legislativa, cargo que utilizou para ganhar dividendos políticos, sem sucesso.

Nos bastidores, Josué Neto tenta persuadir colegas de parlamento. Após dias ausente, quer presidir a sessão plenária da próxima terça-feira, dia 29, para forçar a votação da prorrogação da CPI. Entre os pares, o presidente da ALE é conhecido como ‘’gazeteiro de plenário’’. Dificilmente preside uma sessão desde o início.

Vale lembrar que a CPI não sai de graça à população. Para funcionar, movimenta técnicos, assessores, toda infraestrutura da Assembleia necessária às audiências, pagas com dinheiro público.