O flerte estava na praça há algumas semanas. Desde que voltou ao tabuleiro político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez questão de dizer que estava aberto a conversar com todos ―sugeriu incluir quem apoiou o impeachment de Dilma Rousseff― e sinalizou, inclusive ao mercado financeiro, sua disposição para ajustar posições do PT mais ao centro, se necessário.
Fez exitoso giro por Brasília e já havia anunciado que na semana que vem a agenda seria com os movimentos sociais.
Do seu lado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o mais importante ex-mandatário da redemocratização ao lado do próprio petista, também resolveu fazer um gesto.
Depois da campanha de 2018 em que evitou apoiar o petista Fernando Haddad contra Jair Bolsonaro, mesmo dizendo que o ultradireitista era uma ameaça à democracia, o tucano disse, em uma entrevista à TV, que apoiaria Lula contra o atual ocupante do Planalto em um eventual segundo turno no ano que vem. Foi a senha para quebrar as últimas resistências.
O resultado apareceu nesta sexta-feira, quando as redes sociais de Lula divulgaram uma foto simbólica: o petista e FHC, lado a lado, e de máscara, como manda o protocolo pandêmico. A mensagem informa que os dois se reuniram em um almoço “com muita democracia no cardápio” a convite de Nelson Jobim.
O anfitrião é dono de um currículo imbatível para fazer a ponte: foi ministro da Defesa de Lula, mas ministro da Justiça de FHC, que também o indicou para o Supremo Tribunal Federal (STF). Jobim é um conhecedor dos meandros políticos e, não menos importante, dos humores jurídicos das mais altas cortes no país, um fator essencial na conjuntura brasileira.
“Os ex-presidentes tiveram uma longa conversa sobre o Brasil, sobre a democracia e o descaso do Governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia”, diz o texto.
A postagem correu como pólvora no dia, ainda mais com um público órfão da principal atração política do momento, a CPI da Pandemia que encurrala, pelo menos midiaticamente, o Governo Bolsonaro.
“Nossas diferenças são muito menores do que o nosso dever histórico de derrotar Bolsonaro”, escreveu o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), e um dos atraídos para renovada galáxia de Lula. “É hora de dialogar e construir consensos, porque o que está em jogo é a democracia e a vida dos brasileiros.
Parabéns a Lula e FHC pelo gesto de grandeza e responsabilidade com o país”, seguiu. A interpretação de Freixo é a mais óbvia: a aproximação pode sanar um problema de todos os ensaios de “frente ampla” contra Bolsonaro.
Não havia os dois líderes em nenhum dos movimentos que surgiram até agora.