Covid-19: uso de cloroquina pode causar lesões nos vasos sanguíneos, diz estudo

O uso de cloroquina por pessoas infectadas pela covid-19 pode causar lesões que danificam os vasos sanguíneos, é o que aponta um estudo divulgado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) na última quarta-feira (4). Essas lesões acabam prejudicando a circulação sanguínea e afetando o funcionamento de órgãos vitais, como coração e pulmões.

De acordo com a pesquisa publicada na revista Toxicology and Applied Pharmacology, o medicamento provoca danos nas células endoteliais, presentes em todos os vasos sanguíneos do corpo humano. O estudo foi conduzido por Paulo Cézar Gregório, do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia da UFPR, como pesquisa de doutorado.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores trabalharam com diferentes linhagens de células endoteliais humanas extraídas de vasos sanguíneos e essas células foram cultivadas próximas a quantidades pequenas de cloroquina por até 72 horas.

Esse cultivo fez com que as células passassem a realizar um processo chamado de disfunção endotelial. “Ela para de produzir substâncias que a protegem e passa a produzir em excesso substâncias tóxicas”, afirma a professora Andréa Emília Marques Stinghen. Esta disfunção pode resultar no funcionamento incorreto ou até mesmo na morte da célula.

Comportamento das células expostas à cloroquina

Os pesquisadores também observaram que o comportamento das células cultivadas junto à cloroquina é semelhante ao apresentado por células endoteliais infectadas pelo vírus SarsCov-2. Por conta disso, a equipe acredita que essa lesão nas células é o que pode contribuir para que o medicamento seja ineficaz no tratamento da covid-19.

“Se por um lado, a cloroquina pode diminuir a replicação viral, por outro promove uma citotoxicidade que pode potencializar a infecção viral”, explica Paulo Cézar Gregório, que enfatiza que, apesar de ineficaz contra infecções pelo novo coronavírus, a cloroquina é um medicamento importante no tratamento de outras doenças, como malária e lúpus.

“É preferível controlar doenças graves, em troca dos efeitos colaterais do remédio (cloroquina). Assim é com toda terapia comprovada para alguma doença. Os benefícios têm que superar os riscos”.