As crianças brasileiras estão mais expostas à Covid-19 agora do que no que especialistas consideram ter sido o auge da pandemia, entre março e abril deste ano. Segundo especialistas, isso se deve a flexibilização das medidas de isolamento e porque o público infantil ainda é excluído da vacinação.
Em 2021 o número de internações de crianças e adolescentes por Covid-19 já é o dobro de 2020 no Brasil. As mortes pela doença entre crianças e adolescentes até setembro também já superam as do ano passado.
Médicos e pesquisadores alertam que cabe aos adultos proteger essa população mais vulnerável para evitar uma explosão de casos e internações.
A volta às aulas também pode ser ser uma preocupação, mas, são os familiares quem mais transmitem o coronavírus às crianças, principalmente durante reuniões e festividades.
“Depois de feriados sempre aumenta o número de casos de crianças com Covid. O que contribui para isso é que os pais se contaminam e levam o vírus para dentro de casa”, diz o infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza Costa Júnior, vice-diretor técnico do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, maior hospital pediátrico do país.
Há diferentes indícios estatísticos de que as crianças e os adolescentes estão sofrendo mais agora com a doença do que em outros momentos da pandemia.
O Ministério da Saúde divulgou semana passada um levantamento que mostrou que, entre janeiro e julho de 2021, 15.483 crianças de 0 a 9 anos foram internadas por Covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2020, de abril a dezembro, foram 10.352 internações na mesma faixa etária.
Um outro recorte, divulgado na imprensa tem por base nos boletins epidemiológicos do próprio ministério, mostrou que o número de internações por Covid de crianças e adolescentes entre 0 e 19 anos no Brasil em 2021 foi de 17.299 – um aumento de 18,2% em relação às 14.638 internações de 2020.
É sempre importante lembrar que o número ainda é relativamente pequeno quando se compara com adultos. Para pessoas acima dos 20 anos, já foram mais de 1 milhão de internações neste ano, contra 579.949 internações em 2020 (veja o infográfico).
Por fim, um outro dado que aponta para o aumento no número de internações de crianças e adolescentes por Covid é o que monitora os casos da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
“Desde o final do ano passado, quando começamos a ter um relaxamento do comportamento, a nos expor muito mais, antes da volta das aulas presenciais, já víamos um aumento de casos em crianças. Com o retorno das aulas, vemos um aumento também nas internações”, alerta Gomes.
O pesquisador da Fiocruz aponta que os Estados Unidos já haviam dado uma amostra do que uma flexibilização em escala pode causar. “Os EUA mostraram ao mundo que as flexibilizações, associadas à recusa de adultos em tomar a vacina ou usar máscaras, expõem deliberadamente as crianças ao risco”.
Os EUA vivem uma explosão de casos e de internações de crianças por Covid, que aumentaram 240% desde julho.
Segundo Gomes, no entanto, o Brasil vive uma realidade distinta da americana, em que a variante Delta não teve consequências tão dramáticas. Mas o fenômeno pode se repetir aqui se as crianças não forem protegidas. E o número de internações de crianças por SRAG mostra isso.