Pastor preso por abusos sexuais pediu que pais de vítima orassem para ele

O pastor religioso Sérgio Amaral Brito, de 59 anos, que dava atendimento como psicanalista, sexólogo e terapeuta, em um consultório de Piabetá, em Magé, na Baixada Fluminense, foi preso na última quinta, (16), suspeito de crimes de estupro de vulnerável e de posse sexual mediante fraude. As vítimas revelam que o religioso oferecia um abraço terapêutico para esfregar seu corpo nelas.

De acordo com a declarações colhidas pelos investigadores da 66ªDOP (Piabetá), Sérgio chegava a pedir que as vítimas afirmassem em sua presença que eram “gostosas” e dizia que isso ajudaria as pacientes a melhorar a autoestima .

Ainda segundo as investigações, o suposto processo terapêutico consistia ainda que as mulheres trouxessem fotos de roupas íntimas ou que vissem com uma lingerie para ser vestida e exibida ao terapeuta, no próprio consultório. Foi exatamente o que aconteceu com uma comerciante, que foi vítima do religioso, durante uma consulta em 2013, aos 27 anos.

A vítima e outras quatro mulheres foram abusadas pelo pastor, e criaram um grupo de WhatsApp com a intenção de incentivar que outras jovens também façam denúncias sobre abusos sexuais.

” Há três semanas uma amiga me contou que a irmã foi abusada por ele (pastor) no consultório. Me toquei que havia acontecido a mesma coisa comigo e resolvi procurar a polícia. Estava com problemas de depressão e procurei um psiquiatra na época. Naquela ocasião, ele me pediu para procurar um psicanalista. Acabei indo no consultório do Sérgio, que ficava no mesmo prédio da clínica que frequentava. Estava muito fragilizada e cheguei lá chorando muito. Ele demonstrou ser muito afetuoso neste primeiro atendimento. Na terceira consulta, disse que me daria um abraço terapêutico e se esfregou na altura dos meus seios. Depois, esfregou o corpo todo. Estranhei muito aquilo — lembra a mulher, que ainda relata que o pastor pediu fotos seminuas:

” Me pediu para que eu levasse para ele fotos minhas de calcinha e soutien. Disse que, se eu preferisse, poderia trazer uma lingerie na próxima consulta e mostrar em meu corpo. Eu respondi que não faria aquilo e ele me chamou de rebelde. Fui embora dali. Depois, procurei outro terapeuta, contei o que havia acontecido, e perguntei se aquilo era normal. Ele disse que nunca havia visto nada igual. Me senti suja e impotente diante de tudo o que aconteceu. Eu e as outras quatro meninas que foram abusadas criamos um grupo nas redes sociais para receber denúncias de outros abusos. É uma forma de ajudarmos outras vítimas a denunciar o problema”, ressalta.

Segundo a polícia, as cinco vítimas que apontaram o pastor como autor de abusos sexuais tem um perfil semelhante. Todas são morenas, de cabelos longos e relataram ter sido abusadas quando tinham entre 16 e 27 anos.

Uma  das vítimas contou aos pais que foi hipnotizada e abusada pelo pastor. Os pais procuraram o religioso que teria justificado o ato como sendo uma nova técnica de tratamento que trouxera do exterior e pediu a eles que orassem para que ele não voltasse a fazer tal procedimento.

O religioso foi transferido da carceragem da delegacia para a penitenciária José Frederico Marques, em Benfica, nesta sexta, 17. A unidade serve como triagem para outros presídios e é considerada como porta de entrada do sistema penitenciário.

De acordo com o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro CRP-RJ), o pastor Sérgio Amaral Brito não possui registro de psicólogo. Para Pedro Paulo Gastalho Bicalho, conselheiro presidente do CRP-RJ, só profissionais de psicologia podem exercer a psicanálise.