Vítima de racismo em loja de Fortaleza é delegada da Polícia Civil do Ceará

Segundo a delegada, um funcionário do estabelecimento comercial a teria impedido de permanecer na loja por “questões de segurança”. Mesmo após pedidos de explicação, a determinação da loja teria continuado.

A delegada que investiga o caso, Anna Nery, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Fortaleza, disse que a vítima registrou um Boletim de Ocorrência Eletrônico (BOE) no mesmo dia do ocorrido.

Segundo o relato, Ana Paula chegou à loja por volta de 21h20, consumindo um sorvete. Contudo, ao tentar entrar, foi barrada por um segurança do estabelecimento. Ela questionou se o motivo seria o sorvete, mas não obteve resposta.

“Ele já foi retirando, impedindo o ingresso na loja. Ela foi colocada para fora da loja”, conta Nery.

Fora da Zara, a delegada chamou um segurança e questionou novamente se o sorvete seria o motivo para ter o acesso travado. O homem disse que não e solicitou a presença do chefe de segurança do shopping no local.

O novo agente reconheceu a delegada porque já havia trabalhado com a mesma em outra oportunidade.

Acompanhada pelos outros dois seguranças, ela foi conduzida novamente à loja mas quando o funcionário que impediu a entrada da delegada a viu, teria adotado uma postura defensiva.

“Ele já foi logo dizendo que não tinha nenhum preconceito, que tinha várias amizades gays, lésbicas e trans. Quando ele fala isso, de forma velada, já mostra que tem preconceitoEssas declarações foram dadas no BOE e ratificadas pelo chefe da segurança. Depois, ele pediu desculpa e ela saiu da loja extremamente abalada”, explica Anna Nery.

A delegada investigadora aponta que, nos dois primeiros ofícios enviados à loja para a requisição das imagens do circuito interno, a administração alegou que primeiro iria consultar a assessoria jurídica.

Os vídeos da Zara e do shopping foram enviados à Perícia Forense, inclusive para checar possíveis adulterações, e os laudos devem sair entre 15 e 20 dias, conforme a delegada Anna Nery.

Enquanto o material é investigado, devem ser ouvidos mais dois seguranças do shopping, uma cliente que estava na loja e presenciou o ato, e o funcionário envolvido no caso.

“Quero deixar claro que, em nenhum momento, ela se identificou. Ela poderia inclusive ter dado voz de prisão em flagrante por sua autoridade policial, mas, em razão de ter ficado extremamente consternada pela situação, de ter ficado em choque por precisar passar por uma situação dessas em pleno século XXI, não deu voz de prisão”, disse a delegada ANNA NERY -Delegada da DDM

Em nota, a Associação dos Delegados de Polícia Civil do Ceará (Adepol-CE) prestou solidariedade à delegada Ana Paula Barroso e defendeu rigor na apuração do caso. Confira na íntegra.

A Adepol/CE lamenta profundamente a situação de constrangimento a que foi submetida a delegada Ana Paula Santos e repudia qualquer tipo de discriminação, ratificando o compromisso com a adoção de medidas judiciais e policiais necessárias para a devida responsabilização e punição dos envolvidos.