Governo Bolsonaro é alertado sobre nova onda da Covid-19

O governo federal está recebendo alertas sobre a chegada de uma nova onda da pandemia de Covid-19 de secretários de estados e municípios. Conforme gestores do SUS (Sistema Único de Saúde) que participam das discussões, o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) afirma ter preocupação sobre o cenário da crise sanitária, há também o risco de alta com a variante indiana detectada recentemente no Maranhão mas publicamente trata como se tivesse proporções menores.

Em documentos internos, o Ministério da Saúde reconhece que é incerta a evolução da doença. “Não estamos vislumbrando isso nesse momento. A maneira adequada de se evitar a terceira onda é avançar na campanha de vacinação”, disse o ministro. Segundo Queiroga, alguns estados e municípios já notaram “pressão sobre o sistema de saúde”. “Isso se reflete pela abertura que foi concedida nesses estados.” Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e secretário no Maranhão, Carlos Lula relata que alertou o ministro, nesta semana, sobre possível alta da doença.

Para Lula, a intensificação da pandemia pode ser superior aos anteriores. “A gente já parte de um patamar muito alto”, disse o secretário. Segundo ele, o SUS não tem estoque suficiente de insumos essenciais, como kits de intubação, e está perto do limite da expansão de leitos. Nessa sexta (21), o Brasil registrou 2.136 mortes pela doença e 77.598 novos casos, totalizando 446.527 óbitos e 15.976.156 pessoas infectadas durante a crise sanitária.

A média móvel de mortes ficou em 1.963 óbitos por dia nesta sexta, abaixo de 2.000 pelo 11º dia consecutivo. Há 120 dias a média está acima de mil óbitos diários. Em abril, a Saúde disse à equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) que a crise era grave e havia incertezas sobre a demanda futura por leitos e medicamentos. O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), esteve com Queiroga, no fim de abril, para tratar de uma possível nova onda no estado, tido como bússola da evolução da doença no resto do país.

Gestores do SUS temem, além da falta de insumos, que a rede de atendimento pública não dê conta da nova alta da pandemia. Para o presidente do Conass, é pequena a margem para ampliar o número de leitos e já faltam profissionais de saúde disponíveis para o trabalho.

Conforme informações do jornal a Folha municípios seguem pedindo ao ministério o envio de medicamentos, como do kit intubação, apesar de compras recentes do governo federal. Em nota, a Saúde disse que se prepara para eventual nova onda. “A pasta atua em uma forte campanha de imunização e faz o acompanhamento de consumo e estoque de insumos utilizados no enfrentamento à pandemia”, disse o ministério.

Os alertas sobre nova onda da doença não alteraram a postura de Bolsonaro, que tem promovido aglomerações. “Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa”, disse o presidente a apoiadores no dia 17 de maio. Nesta sexta, o presidente voltou a se aglomerar com apoiadores durante entrega de títulos de propriedade no interior do Maranhão.

Edição desta sexta do Boletim InfoGripe da Fiocruz afirmou que 17 das 27 unidades da Federação apresentam tendência de crescimento da crise sanitária no longo ou curto prazo. “Do ponto de vista epidemiológico, flexibilização das medidas de distanciamento social facilitam a disseminação de vírus respiratórios e, portanto, podem levar a uma retomada do crescimento no número de novos casos”, afirmou o boletim.

O nível de isolamento da população no país é o mais baixo desde o começo da pandemia, mostrou pesquisa Datafolha divulgada no dia 17. Uma das promessas do governo federal de nova arma contra a pandemia é a recém-lançada política de testagem com o uso do exame de antígeno, um modelo que entrega resultado em poucos minutos.

Queiroga promete testar mais de 25 milhões por mês, mas a Saúde só garantiu 3 milhões desses exames. A pasta irá atrás, no curto prazo, de outros 14 milhões, que não têm data para serem distribuídos. Segundo técnicos da Saúde, o ministério tem limitações orçamentárias para enfrentar a pandemia.

A equipe de Queiroga precisa pedir recursos adicionais à Economia a cada nova grande iniciativa, compra de vacinas, custeio de leitos ou medicamentos de UTI. Em abril, a Saúde pediu mais verba para formar um estoque de medicamentos usados na intubação de pacientes para 180 dias, mas a Economia questionou se a pandemia não iria arrefecer e entregou apenas metade do valor.

A promessa da equipe econômica é liberar de forma célere os novos pedidos da Saúde, mas gestores do SUS apontam que o repasse a conta-gotas dificulta um planejamento mais duradouro. Em resposta oficial, a Saúde disse em abril que conseguiu recursos para o “pior cenário” da pandemia nos três meses seguintes.